Despertares nocturnos e a Amamentação
A: "Algo se passa com o meu bebé. Está sempre a acordar. Não consegue dormir mais de 2h seguidas."
B: "Aconselharam-me a dar leite artificial, porque o meu leite já não sustenta o meu bebé."
C: "O meu sobrinho, e os filhos das minhas amigas dormem a noite toda desde o primeiro dia. O meu bebé acorda 5x por noite."
Certamente já ouviste ou já proferiste alguma destas frases.
Eu batalho muito com o assunto do sono dos bebés porque sei que é uma das maiores preocupações das famílias e um dos maiores responsáveis pelo cansaço dos pais. E, inevitavelmente, como Assessora de Lactação, recebo mensagens com preocupações e dúvidas das mães quanto ao facto do leite materno ser fraco, ou não sustentar o bebé, associando os acordares nocturnos a fome.
Antes de mais há que explicar aos pais que é normalíssimo os bebés acordarem várias vezes de noite, principalmente quando são recém-nascidos.
O estômago dos bebés é muito pequeno, o leite é algo de fácil digestão e portanto, nos primeiros meses de vida, é normal que tenham fome várias vezes. NO ENTANTO, é preciso perceber também que os bebés têm despertares nocturnos por vários outros motivos além da fome.
Primeiro que tudo, o bebé nos primeiros três meses de vida está ainda a adaptar-se ao mundo exterior. Aquando do nascimento foi inundado por uma quantidade imensa de novos sons, cheiros, cores, texturas, etc. Quando estava na barriga da mãe tinha todo o conforto, segurança, comida à disposição, não era necessário trocar a fralda, nem chorar para a mãe lhe dar colinho. Cá fora a coisa mudou de figura.
O bebé vê-se num ambiente desconhecido, em que muitas vezes não sente a mãe. Para ele é uma chatice estar deitado num berço ou alcofa, ter que dar sinais para comer e ter que avisar quando está sujo.
Durante a noite, ao haver menos informação visual e auditiva, por uma questão de sobrevivência da espécie, o bebé automaticamente sente que poderá estar em perigo ao estar longe da sua mãe. Daí que tantos papás se queixam que para o seu bebé "o berço tem picos. Só quer estar ao colo ou a mamar". Isto acontece porque para ele o contacto humano é o mais próximo de conforto e segurança que ele consegue ter.
Não esqueçamos que os nossos bebés quando nascem não estão programados para começar a andar, nem para se abrigar, nem para saber que nasceram em plena civilização longe de predadores. E portanto, eles vão fazer de tudo para sobreviver. Nem que para isso tenham que ficar a noite toda acordados só para estarem junto à sua mãe.
Naturalmente que se o bebé não dorme a noite toda, depois de fralda mudada e embalo, a opção seguinte será oferecer maminha. O que sucede depois, por norma, é verem o seu bebé acalmar para, 1 ou 2h depois estarem a ouvi-lo chorar de novo.
É normal que as mamãs que amamentam acabem por sentir que são pacotes de leite ambulantes. No entanto, muitas das vezes, principalmente quando os bebés já têm alguns meses, a maminha serve-lhes mais para conforto e segurança do que propriamente para alimento.
Ao não explicar a importância do toque humano, da pele com pele, do ponto de vista do bebé face à vida pós-gestação, muitas mamãs pensam que os seus bebés acordam com frequência porque o seu leite não é bom ou porque têm leite fraco. E isto não é de todo verdade. Prova disso são as inúmeras mães que relatam ter deixado de amamentar e que viram exactamente o mesmo padrão de sono nocturno ao oferecer leite artificial.
São muitos poucos os casos em que o leite materno não alimenta de forma conveniente o bebé. E esses casos poderão dever-se a vários factores de natureza anatómica, hormonal, emocional, alimentação, tabagismo, etc.
A esmagadora maioria das mães não tem leite insuficiente, apenas foi mal informada e/ou acompanhada.
Os mamíferos foram feitos para dar de mamar, portanto, as mamas foram feitas para alimentar o bebé de forma a que ele sobreviva. E é preciso ajudar as famílias a perceber isso mesmo.
Enquadras-te nalguma das frases colocadas acima? Conta-me a tua experiência.