Amamentação na gravidez
17-02-2021
É recorrente deparar-me com mães que deixaram de amamentar quando engravidaram de outro bebé. Segundo as mesmas, por recomendação médica, não deveriam amamentar.
Eu questiono sempre se os profissionais que as seguem dão um motivo plausível para isso e quase sempre a resposta é a mesma: se amamentar, pode abortar.
Há muita coisa que me faz questionar a capacidade empática da classe médica e infelizmente no que toca à amamentação isto é recorrente.
Antes de tudo é necessário desmistificar: amamentar estando grávida não leva ao aborto. Não há nada cientificamente que comprove que isso acontece a todas as mães.
Poderá acontecer se a mãe e/ou bebé necessitarem de cuidados redobrados por algum motivo (tensão arterial elevada, histórico de perdas de sangue e/ou perdas fetais anteriores, etc). Mas, a regra, não é de todo essa. Essa é a excepção.
E porque é que normalmente associam uma situação à outra? Porque na amamentação é libertada ocitocina (já falámos dela noutro post há uns dias) e a ocitocina faz com que a mãe possa ter contracções. No entanto, essa mesma hormona além de ser segregada durante o trabalho de parto (em quantidades muito superiores), também é libertada durante o acto sexual. Ora, se não é proibida a relação sexual durante toda a gravidez, porque razão a amamentação é tida como responsável por perdas fetais?
Apenas em casos específicos de saúde ou desconfiança de gravidez de risco é que poderá haver cautela, caso contrário não faz sentido passarem medos desnecessários às mães , além de obrigá-las a terminar o vínculo de amamentação com o filho amamentado.
Então, já percebemos que se não houver risco clínico, não precisa deixar de amamentar o bebé/criança nascida (vamos chamar-lhe assim para que percebam mais facilmente). Se tiver dúvidas quanto a isto e se não estiver satisfeita com as indicações do seu médico assistente, fale com outro profissional de saúde com formação em amamentação ou peça ajuda a uma Assessora de Lactação (ou Conselheira de Aleitamento Materno).
Quando não estamos satisfeitos com as indicações que nos dão vamos procurar alguém da área mais qualificada para corroborar a opinião anterior ou para rectificar as informações dadas, certo? Fazemos isso em várias áreas da saúde, por isso se sente que quer e que pode amamentar não hesite em falar com outro profissional de saúde, mas que seja pro amamentação e/ou que tenha formação na área.
Digo isto com bastante certeza: a larga maioria dos profissionais de saúde materna e pediátrica não se actualizam sobre este tema. Não é obrigatório fazer formações sobre leite materno, amamentação ou alimentação infantil. E, no entanto, com frequência sabemos que a classe médica faz formações sobre novas formas de suporte básico de vida, novos procedimentos cirúrgicos, etc. Mas há temas que, não sendo obrigatórios, também não lhes interessam serem estudados.
Pelo menos quanto ao leite materno e amamentação, todos os anos saem novas informações da comunidade científica que mostram que melhoram a saúde do bebé, que comprovam a possibilidade de regeneração mais rápida das células cerebrais, que afirmam que bebés amamentados têm muito mais defesas do que os não amamentados. Mas isto não é passado às mães pelos profissionais de saúde que as seguem.
Por isso, nunca tenha vergonha de procurar uma segunda opinião, os médicos não são omniscientes e nem todos são bons profissionais. Tal como acontece com qualquer outra classe profissional.
Muitas das mães com quem falo acabam por relatar um desmame do filho mais velho. Se então optarem/puderem amamentar esse filho, por que razão acontece esse desmame quando estão grávidas?
Durante a gravidez o corpo irá sofrer imensas alterações e uma delas será, claro, a criação de colostro para o bebé que está por nascer.
É no segundo semestre que muitas mamãs começam a notar uma aguadilha a sair dos seus mamilos. No entanto, se a mãe estiver a amamentar um bebé mais crescido é normal que não note esta diferença. Mas esse filho, à partida, poderá sentir.
O leite que tem sido produzido é leite maduro e portanto, começando a produzir colostro novamente a textura e sabor desse leite poderão ser estranhas para o bebé mais velho que, gradual ou abruptamente poderá rejeitar completamente a mama.
Pode acontecer também de estranhar mas não lhe fazer diferença e continuar a mamar normalmente. Com a sucção, durante o tempo que estiver a mamar, o leite passará de colostro a leite maduro (o leite que lhe é familiar). Se assim for, é fantástico para todos e poderá até amamentar, se ambos quiserem, quando o irmãozinho nascer.
O corpo da mamã é tão fantástico que mesmo depois de ambos cá fora, conseguirá produzir ambos os leites No entanto, é preciso ressalvar que para o organismo da mãe, a prioridade será sustentar o bebé mais novo, visto que o filho mais velho poderá ser alimentado com outros alimentos além do leite materno. E por essa razão os anti-corpos e nutrientes que são passados no leite materno irão com a informação prioritária de alimentar sempre o bebé mais pequeno.