Ralhetes e culpa

20-09-2021

Tornei-me mãe há 3 anos e com isso vieram milhares de dúvidas sobre os mais diversos assuntos relacionados com a minha nova experiência. 

Três anos parece pouco tempo quando pensamos num universo de esperança de vida humana, mas estes 3 anos têm sido uma constante aprendizagem e adaptação. Jamais julguei que pudesse mudar tanto as minhas crenças e opiniões por conta de um ser tão pequenino.Aprendi que a maternidade é um constante mar de emoções contraditórias e que um dos sentimentos mais difíceis de lidar é a culpa.

A culpa que sentimos é muito diferente com um bebé de 3 dias, 3 meses e 3 anos. Isto porque ele está numa fase do seu desenvolvimento diferente mas porque nós também estamos.

Ninguém nos prepara para educar uma criança. Por muita experiência e referências boas que tenhamos de um familiar ou um amigo, quando a criança com a qual estamos a lidar é o nosso filho, tudo muda. Inclusive a nossa tolerância para lidar com tudo o que envolve ter um ser tão pequenino a depender de nós. E isso não faz de nós piores pessoas, apenas significa que somos mães. Muitas vezes esquecemo-nos que atrás de todas as mães existe um ser humano que erra, tem dúvidas e que tenta fazer o seu melhor, mesmo que nem sempre consiga o resultado que pretende. E é aqui que chego finalmente ao tema dos "ralhetes". Confesso que lidar com as emoções do meu filho tem sido um crescente desafio, principalmente porque ser mãe cansa. Sim, cansa. Tal como ser funcionária de uma empresa cansa. O cansaço é algo que pode acontecer a todas nós e não só a nível físico. Posso dizer-vos com toda a certeza que estou cansada de andar sempre cansada. E sei que muitas vezes isto afecta o meu filho, sei que me afecta mais do que gostaria de admitir e existem dias em que a culpa me corrói. Existem dias em que preciso de fazer birra (sim, os adultos fazem birras) e a esmagadora maioria não faço porque tenho um ser humaninho que precisa de mim. Mas nem sempre me controlo e os meus "ralhetes" saem ao som do megafone da imagem. Nessas vezes o tamanho do ralhete é desproporcional ao tamanho da asneira. E eu cresci a pensar que um adulto jamais poderá pedir desculpa a uma criança pois seria "mostrar parte fraca" ou "a criança perderá o respeito pelo adulto". 

Em quase todas as vezes em que acontece eu desabo e agarro-me a ele a pedir desculpa. Não sei se entende ao certo o que se passou, mas tento fazer-lhe entender que eu também faço birras e que por vezes também não ajo da melhor forma.. Só quero que me perdoe e perceba que nem os adultos estão livres de pedir perdão.

Não me importa como se educavam crianças há 30 ou 50 anos. Importa-me que a culpa que sinta por falhar e pedir desculpa seja inferior à culpa que sinto por ter sido casmurra por não tê-lo feito.

© 2022  Sofia Marques |  Terapeuta de Mães e Bebés
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